Inês Rebelo
EXTRA-ORDINÁRIO

(Lat. extra-ordinariu), adj. que não é ordinário; que sucede raramente; excepcional; anormal; raro; singular; esquisito; extravagante; maravilhoso; memorável; notável; excessivo; s. m. acontecimento  imprevisto ou inesperado; qualquer despesa fora do habitual ou do orçado; extra; aquilo que habitualmente não se faz.

A exposição individual de Inês Rebelo na Galeria Monumental inclui pinturas e instalação, onde referências visuais e textuais sobre fenómenos cósmicos distantes se entrecruzam com objectos triviais do dia-a-dia.
Encontramos no mesmo espaço de exposição um relógio de parede, diversas pinturas a spray sobre alumínio cujo vocabulário envolve estrelas, nebulosas planetárias, galáxias, informação técnica formada por siglas e números, e uma sequência de pirilampos de emergência usados pelos serviços de Bombeiros e Polícia.  
Na primeira sala, o relógio de armação vermelha marca o tempo, mas com apenas 10 horas. Aparentemente, ficamos a saber pelo título, esta é a duração de um dia em Saturno.  Mas é também o relógio usado no filme de ficção científica Metropolis de Fritz Lang, qual ironia sobre a vida laboral dos operários em tempos modernos de avanço tecnológico fulgurante.   Na mesma sala, apresenta-se ainda uma sequência de pinturas que incorporam elementos deslocados de publicações científicas, muitas vezes evidenciando a legenda inicial.  Estas pinturas são executadas meticulosamente, quase-jóias, peças preciosas onde descobrimos fenómenos singulares e factos que deixam de ser verdade insofismável, para se apresentarem como curiosidades em que podemos acreditar ou não.
A segunda sala é marcada pela presença de Proxima Centauri, uma pintura que combina a apresentação de um acontecimento do espaço sideral com um tratamento lumínico devedor de Turner.  Nesta peça podemos também ler um texto, desta feita retirado do Museu de Ciência de Londres onde aprendemos que se uma nave espacial viajasse à velocidade de 1.000.000 km por hora demoraria 1.000 anos a chegar à estrela mais próxima do sistema solar.  Tal é a incomensurabilidade estonteante e notável da escala interastral.  Contudo, a esta distância espácio-temporal justapõe-se a proximidade da peça de chão intitulada Ursa Major.  Este trabalho apresenta-se-nos com uma familiaridade peculiar já que utiliza lâmpadas rotativas e LED’s que nos habituamos a ver em veículos de emergência civil.  Este conjunto de oito pirilampos é aqui agrupado de acordo com a configuração e espectro visível da constelação Ursa Maior, e utiliza temporizadores orquestrados para libertar energia em intervalos inesperados.
Assim se constitui a exposição extra-ordinário, convidando o(a) espectador(a) a encontrar também o seu espaço entre distâncias e proximidades e a reavaliar hierarquias de objectos preciosos e triviais que, por se encontrarem lado a lado na mesma plataforma, procuram abrir uma zona de (re)encantamento, essa sim, singular experiência.